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Uma briga na Casa Nuvem no primeiro dia de Carnaval de 2016 foi usada por Indianara como escusa para lançar campanha "Sangue nas Nuvens" desde várias paginas de FBK incluindo a página da casa Nuvem, à qual tinha acceso por ser associada, e incluia vídeos, memes e dezenas de posts que acusavam ao coletivo de descaso perante transfobia e chamavam ao escracho e ao boicote do bar da Nuvem durante o Carnaval.. Ver aqui info sobre a farsa da transfobia da Casa Nuvem.

A campanha teve grande sucesso e passou o recado: 

"Sabemos que os Nuvens foram postos pra correr de lá depois do descaso transfóbico a uma pessoa trans em suas festas. Papo de agressão física, teve sangue no chão e os Nuvens optaram por seguir o baile (...)”. (trecho de post de Tiko Arawak, setembro 2016).

 

A “agressão física” foi cometida por uma mulher trans, em resposta a um comentário transfobico de um homem desconhecido. A mulher quebrou uma garrafa, cortou-se um dedo, e rasgou as costas do homem. O "sangue no chão" foi, por tanto, resultado da autolesão da mulher trans mas estes fatos foram convenientemente omitidos. +info.

A maior parte das pessoas da Nuvem ficaram tão chocadas com o nivel de teatralidade e manipulação dos fatos que quase

todo o mundo cortou parte da empatia que ainda tinha com Indianara, apesar dos ataques sofridos desde dezembro. Foi convocada uma assembleia. A maioria das pessoas falaram que havia que resistir, que a Nuvem não podia acabar assim, mas ninguém parecia estar com as forças como para assumir o protagonismo da gestão num ambiente tão hostil.  

 Quem de nós iria gerir as próximas festas sob ameaça de boicote, escrachos e provocações? Que outras violências mais ou menos “espontâneas” aconteceriam? Como iríamos reagir? Como seria usada a nossa reação?

Dois dias depois do lançamento desta campanha, o pessoal da Nuvem decidiu fechar e assumir as perdas económicas pelo fechamento do bar no meio do Carnaval.

Nesse momento recebemos este mensagem:

“ (…) Vocês me subestimaram. Esse territorio é meu por direito a mais de 20 anos

dos meus 45.Nesses becos e ruelas minha juventude se prostitui desde

sempre. Não preciso disputar tertitorio conquistado. Posso expulsar vocês desse

beco com um piscar de olhos. Ainda estou decidindo se vocês permanecerão no

beco do rato,na Casa Nuvem. Nojentos transfobicos de merda”.

Esta e outras mensagens nos confirmaram que a luta pelo espaço continuaria depois do Carnaval. Na época, os 10.000 reais aproximadamente que gastávamos todo mês na manutenção da casa dependiam, quase exclusivamente, do sucesso das festas que organizávamos. As festas davam muito trabalho e muito pouco dinheiro para quem organizava.  Num clima de profundo abatimento e impotência, o grupo ficou “tentando entender como lidar com a situação”. Uma pessoa do coletivo se dispôs a assumir o espaço para fazer um outro projeto. Enquanto isso, Indianara e outras mulheres começaram a morar na casa. A gente não soube como reagir.

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